Paulo Freire 1921-1997
Paulo Regulus Neves Freire (1921-1997) foi um dos maiores, senão o maior educador brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política. Autor de “Pedagogia do Oprimido”, um método de alfabetização dialético, se diferenciou do "vanguardismo" dos intelectuais de esquerda tradicionais e sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.
O Lado Triste e Difícil
Perseguido pela ditadura militar, teve de deixar seu posto em Brasília, onde coordenava o Programa Nacional de Alfabetização lançado pelo governo João Goulart. O educador passa 70 dias preso e parte para o exílio. No Chile, depois de uma rápida passagem pela Bolívia, escreve o seu “Pedagogia do Oprimido”. Paulo Freire começa a ser conhecido e traduzido em vários países. Mora nos Estados Unidos (deu aulas em Harvard) e, em 1970, transfere-se para a Suíça. Em 1968 foi consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e, desde 1970, consultor especial do setor de educação do Conselho Mundial de Igrejas. Em 1979 volta ao Brasil. É convidado a lecionar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica paulista (PUC-SP). Em 1989, toma posse como secretário Municipal de Educação de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina (PT). Deixou o cargo em 27 de maio de 1991. No período foi criticado por colegas, professores e membros do PT.
O Lado Positivo e de Sucesso
Cidadão honorário de diversas cidades brasileiras. Condecorado 24 vezes com medalhas, comendas e prêmios de vários países. Doutor honoris causa em 28 universidades. Convidado oficial de 54 países dos cinco continentes. Homenageado com uma estátua em Estocolmo, capital da Suécia. Paulo Freire é o educador brasileiro mais conhecido, respeitado e festejado em todo o mundo.
Pedagogia do Oprimido
Nesse livro, Paulo Freire expõe de maneira sistemática a essência de seu pensamento pedagógico. Para ele o processo educativo nunca seria politicamente neutro, mas sim uma ação cultural que resultaria numa relação de domínio ou de liberdade entre os seres humanos. Certo de que o Brasil era dividido em classes com interesses vitais antagônicos, Freire identificava aqui a existência de uma educação voltada para a dominação. Nela, a seu ver, o processo educativo seria rígido, autoritário e avesso ao diálogo com os alunos. Produziria professores empenhados em ter alunos dóceis e passivos e em dar aulas formais e distantes da realidade dos estudantes.
O que essa pedagogia da dominação tentaria impingir, escrevia Freire, seriam os interesses dos latifundiários e industriais, a burguesia, no jargão da Sociologia. Do outro lado, estariam os dominados: operários, camponeses, assalariados. A eles, a pedagogia da libertação poderia dar conhecimentos e suscitar reflexões que lhes possibilitassem tomar consciência de serem explorados e de que poderiam mudar tal situação. Necessariamente essa pedagogia teria de ser flexível, participativa e incentivar ao máximo o diálogo entre mestres e alunos. A tal proposta, Paulo Freire adicionava uma espécie de método de trabalho que alcançou sucesso internacional.
Reconhecido e aplicado nos cinco continentes, o "método Paulo Freire" é uma proposta em que pedagogia e política estão entranhadas. Junto com o ensino das letras, sílabas e palavras, dizia Freire, os alunos deveriam ser incentivados a entender seu papel na sociedade. Por mais humilde que fosse, todo ser humano seria um "fazedor de cultura", quer dizer, teria um repertório cultural rico como o de qualquer outra pessoa de formação mais acabada.
Na Prática
O processo de alfabetização propriamente dito deveria ser iniciado com palavras conhecidas pelos alunos. Seriam as "palavras geradoras". O exemplo clássico é tirado do esforço de alfabetização feito com os operários que construíam Brasília, nos anos 60. Escrevia-se uma palavra geradora conhecida por eles:
TIJOLO - Em seguida, a mesma palavra era grafada com suas sílabas separadas: TI-JO-LO. No passo seguinte, eram apresentadas as "famílias fonêmicas" das três sílabas: TA - TE - TI - TO – TU; JA - JE - JI - JO – JU; LA - LE - LI - LO – LU. A sala era, então, convidada a formar palavras com as novas sílabas. O método continuava com a apresentação das vogais e de palavras com um grau maior de dificuldade, por exemplo, as com dígrafos - lh, nh, ss, rr... - como TELHADO ou MASSA.
Paulo Freire na volta ao Brasil em 1980 |
Suas teses básicas sustentam que o pedagogo deve cuidar de libertar o homem das alienações a que a consciência dominadora o submete. Em tal contexto entende-se o conceito de conscientização. O primeiro passo nessa direção é a alfabetização, entendida como aproximação crítica da realidade por meio da linguagem, "ato criador capaz de gerar outros atos criadores". As palavras usadas no método Freire são ditadas pela realidade do alfabetizando, como, por exemplo, enxada para o lavrador ou torno para o operário. A educação preconizada por Freire é, ao contrário da idéia de "educação para a domesticação", uma educação "para a libertação", ato de conhecimento e meio de transformação da realidade.
“O homem deve ser o sujeito da sua própria educação. Não pode ser objeto dela... Por outro lado a busca deve ser algo e deve traduzir-se em ser mais: é uma busca permanente de “si mesmo”... Sem dúvida ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências, caso contrário se faria de umas consciências objetos de outras. Seria coisificar as consciências.” Paulo Freire
http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2011/10/paulo-freire-um-gigante-na-historia-da.html
Fontes:
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 5ª Edição, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982, p. 28.
Site da Nova Escola (Abril)
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994).
Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (6 ed. 1995).
www.abec.ch/Portugues/.../biografias/Biografia_de_Paulo_Freire.pdf
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