terça-feira, agosto 29, 2006

Desenho de Deus...

Armandinho
Quando Deus te desenhou
ele tava namorando
Quando Deus te desenhou
ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
tirou a sua voz do própolis do mel
e o teu sorriso lindo de algum lugar do céu
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que tem por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
Da estrela mais bonita o brilho desse olhar
Diamante verdadeiro sua palavra foi buscar
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que tem por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor

domingo, agosto 06, 2006

Dura na queda (Ela desatinou nº2)

Chico Buarque/2000 Gravada por Elza Soares em Do coccix até o pescoçoMaiansa - 2002

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do Carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural
Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade sim
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas
Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir
Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas

TINHO


Sempre
Eu te contemplava sempre
Feito um gato aos pés da dona
Mesmo em sonho estive atento
Para poder lembrar-te sempre

Renata Maria

Ivan Lins - Chico Buarque /2005
Ela era ela era ela no centro da tela daquela manhã
Tudo o que não era ela se desvaneceu
Cristo, montanhas, florestas, acácias, ipês
Pranchas coladas na crista das ondas, as ondas suspensas no ar
Pássaros cristalizados no branco do céu
E eu, atolado na areia, perdia meus pés
Músicas imaginei
Mas o assombro gelou
Na minha boca as palavras que eu ia falar
Nem uma brisa soprou
Enquanto Renata Maria saía do mar
Dia após dia na praia com olhos vazados de já não a ver
Quieto como um pescador a juntar seus anzóis
Ou como algum salva-vidas no banco dos réus
Noite na praia deserta, deserta, deserta daquela mulher
Praia repleta de rastros em mil direções
Penso que todos os passos perdidos são meus
Eu já sabia, meu Deus
Tão fulgurante visão
Não se produz duas vezes no mesmo lugar
Mas que danado fui eu
Enquanto Renata Maria saía do mar

Ela faz cinema

Chico Buarque / 2006
Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual
Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente O que mente para mim
Serei eu meramente Mais um personagem efêmero Da sua trama
Quando vestida de preto Dá-me um beijo seco Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão Me clama
Ela faz cinemaEla faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém Me faz
Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito Cantar outra vez
Quando ela jura Não sei por que deus ela jura Que tem coração
E quando o meu coração
Se inflama
Ela faz cinema Ela faz cinema Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim

As atrizes

Chico Buarque/2006
Naturalmente Ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela
Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim
Surgiram outras
Naturalmente
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho
Na minha frente
Para sair com outro cara
Porém nunca me importei
Com tais amantes
Os meus olhos infantis
Só cuidavam delas
Corpos errantes
Peitinhos assaz
Bundinhas assim
Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito para mim

Outros Sonhos

Chico Buarque/2006

Soñé que el fuego helaba
Soñé que la nieve ardía
Y por soñar lo imposible
Soñé que tú me querías.
(Anônimo)
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se emperiquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia
Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a policía já não batia
De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias
Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardía
Y por soñar lo imposible, ay, ay
Soñé que tú me querías

Subúrbio

Chico Buarque/2006
Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa
Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, InhaúmaCordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores
Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia Naquela que te sombreia
Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda
Fala, PenhaFala, Irajá
Fala, Encantado, BanguFala, Realengo...
Fala, MaréFala, MadureiraFala, Meriti, Nova IguaçuFala, Paciência...

sexta-feira, agosto 04, 2006

Faz um bem que ninguém me faz

... Nunca será de ninguém,
porém eu não sei viver sem e fim ...

Chico Buarque